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Malandragem na execução dá origem a nova música Originado de procedimentos empregados pelos músicos de grupos de choro e bandas de coretos do Rio de Janeiro desde a década de 1860, o futuro gênero de música popular chamado de maxixe ia surgir a partir de 1880 acompanhando a maneira exageradamente requebrada de dançar tal tipo de execução, principalmente de polca-tango. Isso poderia ser comprovado quando, a 17 de abril de 1883, na cena cômica intitulada Aí, Caradura!, o ator Vasques mostrava um carioca, em cuja casa se realizava um baile, a incitar seu convidado caradura (hoje cara de pau) a demonstrar suas habilidades de dançarino dizendo: "Vamos, seu Manduca, não me seja mole: eu quero ver isso de maxixe!" O que realmente acontecia obedecendo a seguinte rubrica do texto: "A orquestra executa uma polca-tango, e ele depois de dançar algum tempo, grita entusiasmado: - Aí caradura!". Ao que acrescentava a indicação: "(Canta: No maxixe requebrado/ Nada perde o maganão!/ Ou aperta a pobre moça/ Ou lhe arruma um beliscão!)". Foi, pois, o estilo de tal forma malandra e exagerada de dançar o ritmo quebrado da polca-tango que acabaria por fazer surgir o maxixe como gênero musical autônomo, ao estruturar-se pelos fins do século XIX sua forma básica: a exageração dos baixos - inclusive pelos instrumentos de tessitura grave das bandas - conforme o acompanhamento normalmente já cheio de descaídas dos músicos de choro. Ou, como explicava no artigo Variações sobre o Maxixe o maestro Guerra-Peixe, "melodia contrapontada pela baixaria, passagens melódicas à guisa de contraponto ou variações e, em alguns casos, baixaria tomando importância capital". Sucesso brasileiro na Europa
A maior prova da repercussão alcançada pelo maxixe na Europa, porém, seria fornecida pela literatura. Em suas Memórias escritas na década de 1960, o escritor soviético Ilia Ehrenburg, ao recordar no capítulo Infância e Juventude, no primeiro volume, da agitada vida russa de 1905, lembrava que, já então, "em lugar da mignone e da chacona da minha infância, as moças estudavam, diante das assustadas mamães, o cake-walk e o maxixe". Em outro livro de memórias - este do escritor Paul Léautaud, no Journal Littéraire - o ensaista e cronista recordava uma recepção na casa de Mme. Dehaynin, num domingo de novembro de 1905, em que, após o jantar, "a senhorita Marcelle Dehaynin, acompanhada ao piano por sua mãe, dançou para nós o cake-walk, o matchice etc. E ainda antes da Primeira Grande Guerra, enquanto Georges Courteline dedicava uma de suas pequenas cenas cômicas ao diálogo de suas parisienses a discutir futilidades como infidelidade dos maridos, festas e o maxixe, o poeta Jean Richepin - segundo revelava o cronista Alvaro Moreyra em 1914 - provocava a Academia Francesa com uma conferência sobre o tango e o maxixe. Tema que, aliás, aproveitaria logo a seguir numa peça teatral escrita em parceria com a mulher, Mme. Richepin. Desaparecimento gradual
Músicas - Cristo Nasceu na Bahia (Sebastião Cirino)
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